23 fevereiro, 2010

«O que aconteceu na Madeira pode acontecer em qualquer parte»


Urbanista Leonel Fadigas defende a prevenção urgente de desastres naturais

O urbanista e arquitecto paisagista Leonel Fadigas considera que as construções em redor de diversas ribeiras em Lisboa são um «factor de risco» se deparadas com intempéries como a registada na Madeira este fim-de-semana, informa a Lusa.

«Temos um sistema de ribeiras em Lisboa, que correm todas para o Tejo, à volta das quais se urbanizou. Todas elas são factores de risco, umas mais, umas menos», declarou o urbanista.

Leonel Fadigas defende que, em plena concepção do Plano Regional de Ordenamento de Território para a Área Metropolitana de Lisboa, deve ser dada «urgente» atenção à prevenção de desastres naturais.

O urbanista descreveu a situação decorrida na Madeira como uma «tragédia humana e económica», reflexo de um período de «alterações climáticas extremas», onde «ou não chove durante muito tempo ou chove muito durante uma forma concentrada, em muito pouco tempo».

Leonel Fadigas salientou que, em tais casos, com «chuva em muita quantidade num intervalo de tempo muito curto», quando são «grandes áreas impermeabilizadas» afectadas, as mesmas «drenam muito rapidamente toda essa água para sistemas sem capacidade para a fazer sair rapidamente».

Catástrofes «podem acontecer em qualquer parte do país»

«Em Lisboa há várias áreas que não têm essa capacidade», afirmou o urbanista, destacando Algés, Dafundo e Alcântara como «zonas críticas» se deparadas com eventuais temporais ou catástrofes naturais.

«Aquilo que aconteceu na Madeira pode acontecer em qualquer parte do país, fruto de um planeamento completamente incompetente e mal feito em matéria de ordenamento de território», afirmou o presidente da Associação Profissional dos Urbanistas Portugueses, Diogo Mateus.


22 fevereiro, 2010

"SABOR DA DESPEDIDA"

Estreia na RTP 2, dia 27 de Fevereiro, pelas 21 horas, o documentário "Sabor da Despedida". Um documentário sobre a construção da Barragem do Baixo Sabor e consequente fim do último rio selvagem do país.

fonte: LPN-Liga para a Protecção da Natureza

(agradeço a quem me enviou informação ;))

16 fevereiro, 2010

impactos nas nossas paisagens


Em continuidade ao post anterior, decidi resumir minimamente, um tema que tem muito que dizer, ou aprofundar.

Os processos de reciclagem de matéria como aterros (p.ex.), e os processos de extracção de energias como barragens e centrais eólicas (p.ex), geram impactos ambientais em zonas naturalizadas tornando impossível no futuro recuperar ao que eram estas paisagens.

E quando chegar a “moda” de viver no interior do país, ter espaços agrícolas e retomar ao que fomos em tempos?...só aí se vai pensar nas consequências das medidas tomadas, quando não houver nada a fazer?

Como primeiro exemplo, apenas como anotação - aterro sanitário de Lazarim, em Lamego – a destruição de uma paisagem natural para implementar um aterro – a alta altitude que não beneficia a decomposição, com proximidade de nascentes e linhas de água, entre muitos outros contras. A população revoltou-se, protestou, mas nada consegui.

O segundo exemplo é sobre a barragem de Fridão, um exemplo que conheço com mais pormenor, mas acredito que semelhantes existirão. Mais uma vez, o estudo de impacto ambiental foi passado ao de leve, e menosprezados todos os principais contras que esta infra-estrutura trará na envolvente próxima.

“a barragem programada para Fridão, virá a repercutir-se-á de forma irreversível e devastadora na cidade de Amarante, a nível das condições de vida, da qualidade da água para consumo, do regime e amplitude das cheias e sua incidência na segurança dos residentes, da completa destruição do revestimento vegetal das margens e ínsua dos frades, das praias fluviais, dos percursos pedonais beira-rio, da descaracterização radical da paisagem, com a irreversível rotura do diálogo harmónico da moldura ambiental com o conjunto monumental e histórico da ponte e Igreja de S. Gonçalo - uma trilogia âncora de uma economia exclusivamente virada para o turismo - como se tudo isso fosse tara sem valor e de somenos importância." (in http://www.petitiononline.com/PASB2008/petition.html)

Será que todas estas medidas “futuristas” valerão a destruição da nossa paisagem natural e cultural? E a opinião de quem conhece, mora e vive nestes locais, apenas conta para votos?...

SABIA QUE...O governo, aprovou a construção de 5 barragens hidroeléctricas na bacia do Tâmega, a montante da cidade de Amarante. A barragem de Fridão, ficará a cerca de 6 quilómetros. O documento que sustenta esta decisão não faz qualquer referência aos impactes da construção da barragem e em particular relativamente ao património ambiental histórico e paisagístico da cidade de Amarante (in http://poramarantesembarragens.blogspot.com)

Para os mais interessados, poderão consultar o site da petição contra as barragens no Tâmega: http://www.petitiononline.com/PABA/petition.html

O consultar o relatório síntese do impacto ambiental, assim como mais informações no site: http://poramarantesembarragens.blogspot.com

fonte imagem: http://cidadaniaparaodesenvolvimentonotamega.blogspot.com/


08 fevereiro, 2010

Gado e hortas essenciais nas cidades


Cidades, agricultura e pastorícia não são uma antítese. Mas o betão e o alcatrão estão a ganhar terrenoCidades, agricultura e pastorícia não são uma antítese. Mas o betão e o alcatrão estão a ganhar terreno.

Criação de cavalos no centro de Lisboa - mesmo que um dos animais fuja, como aconteceu na madrugada da passada terça-feira - ou o rebanho que cruza uma aldeia entre o redil e a pastagem, passando pelo meio dos moradores, têm um significado muito semelhante para o arquitecto paisagista Gonçalo Ribeiro Telles: "São as nossas origens agrícolas, que, infelizmente, estão tão esquecidas. A agricultura urbana deveria ter integração obrigatória no planeamento urbano, e o gado e a pastorícia são peças fundamentais nesse processo", alerta.

Segundo Ribeiro Telles, Portugal regista um "atraso secular" nesta matéria, o que está a provocar, garante, o despovoamento das aldeias e consequente procura dos subúrbios das grandes cidades, com elevadas concentrações humanas. Loures e Estoril, onde ainda resistem alguns pastores, depois de debandada geral das últimas décadas, são exemplos de desertificação apontados pelo arquitecto às portas de Lisboa. "Embebedamo-nos com problemas como o TGV, sem nos apercebermos da gravidade em que caiu o nosso abastecimento", insiste, defendendo que os animais domésticos "têm de ter cabimento nas nossas cidades, vilas e aldeias".

E não interessa se são "cavalos, ovelhas, galinhas ou porcos". Nem tão-pouco se atravessam aldeias, estradas ou cidades. "Os animais dão vida, porque uma terra que tenha animais, tem pastoreio, tem casas habitadas, tem escolas e futuro. Hoje só vemos velhos nas aldeias, escolas fechadas e os caminhos por onde o gado passa totalmente destruídos. Estamos a criar um deserto para viabilizar a monocultura industrial do eucalipto e do pinheiro", lamenta.

Para Ribeiro Telles, não é por acaso que as universidades americanas há muito que debatem o problema da agricultura urbana, que começou a disseminar-se por toda a parte. "É triste, mas nós não conhecemos nada desta realidade. Há quem defenda que a cidade e Lisboa não comporta vegetação e agora até há o perigo de aparecerem as casas ecológicas com telhados cobertos de plantas para haver mais espaço para construção em massa", diz o especialista.

O arquitecto admite que o debate em Portugal sobre a recuperação do pastoreio nas cidades "está mais do que feito". Porém, dá um exemplo de como todos os argumentos têm caído em saco roto: "Quando se quer promover uma parcela de terreno, põe-se uma menina bonita ao lado", refere, lamentando que ninguém invista num outdoor com os utilizadores da paisagem, que seriam os pastores. Chegámos ao cúmulo de ver placas à beira da estrada afixadas nas melhores várzeas do país", aponta.